Tradução de Ivair Carlos Castelan

Se alguém me perguntar “é verdade que os italianos são racistas?”, respondo com minha experiência a essa pergunta de maneira assertiva: com sim ou não. Nesse caso eu digo: não, os italianos não são racistas. 

Na minha opinião, o que acontece com os italianos é que eles têm medo do diferente.

Com isto, no entanto, não quero dizer que não haja casos de racismo em um país de 60 milhões de habitantes, mas, felizmente, ainda são casos excepcionais. 

Falo de situações desagradáveis, como a que aconteceu no bar de Treviso, Veneto, em junho de 2019, em que uma garçonete foi recusada por um cliente pela cor de sua pele. 

É um caso horrível e injustificável, mas o que tento destacar é que, de qualquer forma, não se trata de um racismo sistemático ou violento como o dos Estados Unidos, onde eles o rejeitam e, ainda hoje, não lhe dão um emprego ou podem atacá-lo pela cor de sua pele.

Minha opinião sobre o racismo na Itália

Na minha opinião, o racismo na Itália é mais forte entre os próprios italianos. 

Tudo começa com a forte diferença que sempre existiu entre o norte e o sul deste país. 

Em Milão, por exemplo, na década de 1960, eles colocavam placas com as palavras “Não se aluga aos sulistas” (“sulistas” e “terroni” são termos depreciativos para se referir ao povo do sul, assim como “polentone” para falar sobre aqueles do norte). 

Hoje, esse tipo de discriminação não é tão forte, mas ainda é um fato implícito, uma eterna rivalidade entre o Norte e o Sul.

A história do racismo na Itália

Tudo isso, no entanto, tem bases históricas. Lembre-se de que a Itália nasceu formando-se por pequenos lugares, cidadezinhas e regiões que foram divididas e depois “forçadas” a se unificar. Isso resultou em um forte senso de pertencimento local, o que é formalmente chamado de “Campanilismo”.

Por Campanilismo entende-se o apego exacerbado à cidade ou município, aos seus costumes e tradições. A defesa destes valores pode, por vezes, conduzir a um espírito de rivalidade, mesmo com os centros vizinhos.

Além disso, a nível histórico, o conceito de “racismo” na Itália foi importado. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Itália era aliada da Alemanha e, Mussolini, para impressionar o Führer, adotou as Leis Raciais aprovadas por Hitler.

Führer em alemão  “condutor”, “guia”, “líder” ou “chefe”. Deriva do verbo führen “para conduzir”. Embora a palavra permaneça comum no alemão, está tradicionalmente associada a Adolf Hitler, que a usou para se designar líder da Alemanha Nazista.

Outro aspecto importante é a grande influência da Igreja Católica, pois sendo uma instituição tão forte e tendo sua “sede operacional” em Roma, levou a Itália a criar quase um único modo de agir e pensar fortemente ligado à religião.

Tudo isso resultou em medo e, em um sentimento de antipatia pelos modos de pensar, religiões e culturas diversas. 

E agora estamos diante de um panorama no qual todos os dias chegam na Itália muitos estrangeiros de diferentes países, uma situação que os italianos ainda não sabem como assimilar. 

Por isso, ouve-se por aí (comigo aconteceu duas vezes) referências negativas aos negros e aos estrangeiros que vêm de países pobres ou em conflito. 

Na minha opinião, isso é apenas ignorância, mas não ignorância do ponto de vista acadêmico; uma ignorância ligada à falta de conhecimento de outras culturas, à falta de abertura para com os outros. Repito, porém, que são casos excepcionais. 

Eu moro na Itália há 4 anos e nunca ouvi histórias diretas que dizem que alguém não tem trabalho na Itália porque é de pele escura. Eu vi alguns exemplos de pessoas negras que tiveram cargos importantes na Itália:

O Festival de Sanremo (oficialmente Festival da canção italiana; Festival della canzone italiana) é considerado um dos mais importantes eventos de musicais do mundo e talvez o mais importante da Europa, principalmente por sua longevidade. É realizado sem interrupção desde 1951, antes mesmo da chegada da televisão na Itália em 1955.

Além da história, veio a crise econômica na Itália

Outro aspecto importante a ser levado em consideração é a crise econômica que atingiu a Itália há alguns anos.

Essa crise se desenvolveu simultaneamente com crises políticas e sociais em outros países. 

Portanto, esse medo em relação aos outros atualmente está ligado e fortalecido pela chegada dos estrangeiros. 

É mais fácil, mesmo que não seja justificado, associar a crise aos estrangeiros com o típico discurso “eles vêm roubar nosso emprego”, o que é completamente falso. 

Infelizmente, a mídia também está contribuindo com esse raciocínio: por exemplo, quando ocorre um episódio sensacionalista, a nacionalidade é imediatamente informada, se foi feita por um estrangeiro. 

Mas, na realidade, a criminalidade na Itália não pode ser justificada com a presença dos estrangeiros, na verdade, muito pelo contrário! Em 2018, eles publicaram estudos que mostram que o crime na Itália diminuiu e, de fato, não está ligado a estrangeiros.

Afinal, os italianos são racistas?

No final, não se pode generalizar que os italiano são racistas. 

De um ponto de vista muito pessoal, que está ligado à minha experiência como estrangeira na Itália, não se pode dizer que na Itália não há racismo, mas é igualmente verdade no sentido oposto: não se pode dizer que os italianos são racistas. 

Mais do que discriminação pela cor da pele, pode-se dizer que há casos de antipatia em relação à origem diferente de alguém, mesmo entre os italianos, fato que foi alimentado pela péssima política atual. O que infelizmente é uma tendência mundial nos dias de hoje.

Leia também o artigo em italiano: Gli italiani sono razzisti

Faça o exercício desse artigo: Esercizi

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