O acordo é definitivamente uma parte importante, porque se você não está pessoalmente satisfeita como mulher você nunca poderá se realizar como mãe.

Tradução de Ivair Carlos Castelan

Ser mãe trabalhadora na Itália, tema legal, certo? Lembramos que o conceito de família na Itália tem raízes profundas.

A Itália é um país muito centrado na família, talvez seja um estereótipo nascido no exterior, mas também aceito pelos próprios italianos.

Para um italiano, família é tudo. E quem normalmente é o centro da família? A mãe.

A Itália, como muitos países, está se adaptando aos tempos modernos, e o papel da mulher também está ganhando mais importância na sociedade, não só como figura que mantém a casa em pé, mas também como quem estuda, cresce e se desenvolve profissionalmente. 

Por isso, desta vez conversamos com uma mãe trabalhadora na Itália: Maria Grazia Colaianni, uma profissional que vive no sul da Itália, na Puglia, e ela nos contou como conseguiu encontrar a fórmula mágica que lhe permite conciliar trabalho e família.

Mas não só isso, ela já morou no exterior e também fala 3 idiomas, por isso conhece os desafios que se deve enfrentar fora de casa.

A entrevista

Olá, Maria Grazia, pode nos dizer quem você é, o que faz, onde mora e quantos filhos você tem?

Olá, meu nome é Maria Grazia, moro no sul da Itália, na província de Bari, se você olhar no mapa é o “salto da bota”, e sou consultora de negócios, ou seja, sou responsável em dar suporte a empresas em alguns projetos específicos de melhoria. Sou casada e tenho um filho de 4 anos e meio.

Eu sou uma mãe trabalhadora na Itália, que trabalha um pouco meio período, mas meio período vertical, ou seja, trabalho alguns dias, não toda a semana, mas o dia todo, então não é o meio período clássico de um de uma parte do dia, isso porque, muitas vezes, devido a meu trabalho eu preciso viajar pela Itália.

Isso obviamente, como mãe, foi um meio-termo.

O fato de trabalhar poucos dias foi um acordo para tentar ficar um pouco mais com meu filho; ainda posso contar com a ajuda, principalmente do meu marido e, em parte, de uma babá.

Mas posso dizer que passo mais tempo com meu filho do que muitas outras mulheres trabalhadoras que chegam em casa tarde todas as noites. Portanto, foi uma concessão sem grandes reprimendas.

A palavra de ordem é organização.

Na verdade, como é seu dia normalmente?

Tenho dois dias típicos: o primeiro é quando estou em casa, por isso não trabalho formalmente para um cliente; o segundo tipo é quando eu saio e volto durante o dia.

Na verdade, pensando bem, há três dias típicos, porque o terceiro dia é quando eu não volto para casa.

Então, no primeiro tipo de dia, quando não estou trabalhando para o cliente, atuo como mãe em todos os aspectos: acompanho meu filho à escola, depois disso, pela manhã, me dedico aos meus compromissos, aproveito para arrumar a casa, ou fazer algumas compras que exigem mais tempo.

Na maioria das vezes, meu trabalho exige preparação, digamos, de documentos, projetos, então também tem uma parte de trabalho em casa, um pouco de back office e, finalmente, às 16 eu vou buscar meu filho e dedico a tarde a ele.

Muitas vezes preparamos o jantar porque ele está na fase em querer me ajudar e depois à noite ele brinca, eu leio uma fábula para ele e vamos dormir.

O primeiro tipo de dia é como uma mãe dona de casa, trabalhadora, em meio período.

O segundo tipo de dia, eu saio e volto à noite; na grande maioria das vezes, eu acordo muito cedo, então não acompanho meu filho, mas meu marido cuida disso.

À noite, se eu não consigo voltar para jantar, com certeza retorno depois do jantar, então cuido do meu filho na última parte: eu dou banho nele, leio a fábula para ele e o faço dormir.

Já no terceiro tipo de dia, eu estou completamente ausente, estou trabalhando 100% e meu marido cuida de nosso filho, com certa ajuda da babá.

Há, digamos, uma mistura de mãe e trabalhadora nestes três tipos de dias.

Mas você achava isso antes de ter o bebê? É algo que você já tinha em mente sobre como equilibrar ou é algo que aconteceu aos poucos?

Comecei este trabalho, muito antes de ter o bebê, e sempre me perguntei como seria depois que decidisse ter um filho.

Não conseguia imaginar, estou falando a verdade. Eu estava com medo de ter que desistir de parte do trabalho.

Antes de ter um bebê, nunca imaginei que eu conseguiria conciliar isto.

Na verdade, posso dizer que é possível, é muito possível mesmo. O meu filho é tranquilo e isso é importante, obviamente, há momentos que são um pouco assim… mas cheguei ao chamado trabalho-vida-equilíbrio, no verdadeiro sentido da palavra.

E na sua opinião quais seriam as principais características de uma mãe trabalhadora na Itália?

Retirar e colocar.

Ser capaz de reduzir uma parte da sua vida, com certeza, é uma concessão, então eu reduzi minhas horas de trabalho.

Gosto muito do meu trabalho, por isso foi uma renúncia para mim, mas em relação à tradicional mãe italiana, acrescentei algo de mim mesma, não desistindo totalmente deste trabalho.

Eu poderia, facilmente, fazer outro trabalho bem perto de casa, mas estando fora de casa das 9h às 18h e não com o mesmo grau de satisfação.

Eu tinha uma alternativa. Mas escolhi o trabalho que me dá mais satisfação.

Portanto, a concessão é definitivamente uma parte importante, porque se você não está pessoalmente satisfeita como mulher, nunca ficará satisfeita como mãe.

E repito que fiz algo diferente da mãe tradicional porque, principalmente no Sul, há sempre, apenas e exclusivamente, em primeiro lugar a família, o filho, e parece que ir trabalhar é um crime talvez porque exija muito tempo.

É por isso que a concessão é, na minha opinião, o elemento certo para ser uma boa mulher e também uma boa mãe.

Também é importante buscar o equilíbrio entre marido e mulher; o papel do pai deve estar mais presente do que normalmente é nas famílias italianas, pelo menos tradicionalmente.

Já que estamos falando para um público estrangeiro, na sua opinião, qual é a parte mais fácil de ser mãe trabalhadora na Itália?

O fato de viver na Itália, principalmente no sul da Itália … há uma simplicidade nas coisas, em aproveitar as pequenas coisas, em estar juntos.

Não temos que criar quem sabe quais jogos ou quem sabe quais aventuras, basta ir para o campo, brincar com a terra em ”busca de grandes tesouros” ou “agora é a hora de ser um detetive ultrassecreto”, ou seja, a simplicidade das coisas, a espontaneidade com que as ações, às vezes, são realizadas.

Provavelmente, o fato de também aproveitar cada momento assim como ele vem, provavelmente também ligado à personalidade; eu vejo muito isso em ser italiano, um pouco criativo, em improvisar certas situações. Isto se eu realmente puder dizer algo sobre ser um pouco italiano.

No entanto, qual é a parte mais difícil, no mesmo contexto, de ser mãe trabalhadora na Itália?

Então, a parte mais difícil está nos serviços.

Explico: existem pouquíssimas creches municipais, no Sul ainda é pior do que no Norte.

Se, pelo contrário, você mora em uma cidade como Milão ou Roma, certamente há mais assistência.

Quanto mais você vai para as pequenas cidades, há menos assistência do Estado, em geral; então você tem que recorrer a entidades privadas, e não é que você tem que ser, necessariamente, rico ou bem de vida, mas é uma despesa que você tem que arcar.

Em alguns casos, o Estado dá a possibilidade de receber gratificações, porém a nível organizacional, se você quiser trabalhar com uma criança muito pequena de até 3 anos – a partir dos 3 anos existe o jardim de infância, que não é obrigatório, mas é uma ajuda e há muitos que funcionam muito bem – você tem que ser autônoma, você tem que, de alguma forma, se garantir.

Então, para uma mãe trabalhadora na Itália, fica um pouco difícil; assim como quando as aulas terminam porque a maioria das escolas, tanto o jardim da infância quanto o ensino fundamental, terminam às 13h, 13h30, no máximo às 14h, e algumas escolas permitem de ficar à tarde, mas não todas.

Isso significa que, se você trabalha em tempo integral, precisa ter uma babá ou avós ou pessoas que possam ficar com a criança. Por isso, muitas mulheres, principalmente no Sul, procuram trabalhar meio período apenas para poder estar um pouco mais presentes à tarde.

Dessa forma, talvez esta seja a parte um pouco mais complicada, principalmente se você tem um marido, que não está muito presente por motivos de trabalho ou mesmo por inclinação.

Ter um filho na Itália muda dependendo da região onde se vive? Ou seja, se uma mãe que vem do exterior quiser vir para a Itália, para onde ela poderia ir?

Com certeza existe uma situação diferente entre o norte e o sul, certamente mais no que diz respeito aos serviços, mas não tanto quanto à mãe. Por exemplo, transporte, conexões, hospitais.

Mais do que qualquer outra coisa, eu diria que também há uma diferença e isso vale para toda a Itália, seja nas grandes cidades ou grandes centros e cidadezinhas.

Obviamente, para tudo há prós e contras: se você mora na cidade grande tem muitos serviços, mas talvez, por outro lado, tenha menos segurança, principalmente se você é mãe trabalhadora na Itália e está sozinha, ou não está com o resto da família; ou se você tem que demorar muito para se locomover, e se você já trabalha o dia todo, também deve considerar uma ou duas horas de transporte por dia.

Tudo isso que, ao invés, você não tem em uma pequena cidade, onde você tem muito mais tranquilidade e pode chegar ao lugar que deseja, com mais facilidade.

Obviamente, há prós e contras, mas se eu tivesse que aconselhar uma pessoa que vem para a Itália, eu definitivamente diria para ir para uma cidade de médio-grande porte, portanto, com mais serviços, mais opções –  talvez não as metrópoles Milão e Roma, mas uma cidade médio porte.

Também depende muito do que você quer fazer, se quer trabalhar, se não quer trabalhar, que tipo de trabalho pode fazer, porque talvez haja pessoas que encontrariam trabalho mais facilmente no Sul do que no Norte se quiserem trabalhar na agricultura, ou em uma área específica de  determinado tipo de turismo.

Depende muito, mas como diretriz geral, morar em um centro maior pode ser mais fácil para uma mãe.

Por último, muitas mães também nos perguntam sobre a proteção legal de imagens e dados de crianças na Itália. Principalmente por isso, às vezes, a superexposição que existe com as imagens das crianças nas redes sociais, etc. Como mãe, você conhece alguma legislação, alguma proteção da imagem dos filhos, o que você acha?

Em geral, existe uma lei de privacidade na Itália, e até mesmo um responsável nomeado pelo Estado, que protege a privacidade de todos, adultos ou crianças.

Especificamente nas redes sociais, colocar as fotos dos seus filhos numa rede social é algo pessoal, no sentido que eu, como mãe, posso decidir.

Eu, pessoalmente, nunca coloquei uma foto do meu filho, porque não gosto de jeito nenhum.

Sim, estou nas redes sociais, mas nem coloco mais minhas fotos pois, embora possam haver garantias e leis de privacidade, uma vez que você insere um dado na internet ele fica na memória e você pode fazer muito pouco.

Geralmente, quem conhece você sempre pede permissão para colocar a foto do bebê na internet.

Se for a escola, que ficou muito mais rígida do que no passado, eles pedem para você assinar um documento de privacidade, pedem permissão para colocar, por exemplo, a foto das crianças no site da escola, se elas fizerem atividades.

Mas você pode seguramente não dar permissões e seu filho nunca aparecerá, caso contrário, eles estão sujeitos a denúncia.

Então, do ponto de vista institucional, estamos muito protegidos. Pelo contrário, do ponto de vista de amigos e conhecidos, que podem ter uma fotografia de grupo em que seu filho está, eles tendem a pedir sua permissão.

E se não te perguntarem e tiver uma foto, você fala diretamente com a pessoa e se ela realmente não tirar, mas estamos falando de casos extremos aqui, você pode fazer uma denúncia na Polizia Postale.

Polizia Postale é um departamento especializado da Polícia do Estado para todas as atividades de prevenção, controle e repressão de infrações penais e administrativas que se enquadrem no vasto e complexo tema das comunicações, das atividades criminosas relativas à Internet e em geral do cibercrime.

Há muita atenção em relação à privacidade na Itália.

Além dos conselhos que você nos deu sobre como viver na Itália com um filho, qual seria o conselho mais importante a uma mãe que vem do exterior com seus filhos?

Ter um projeto.

Ou seja, chegar com uma ideia mais ou menos clara do que você quer fazer na Itália. Como estrangeiro, em geral, talvez sem documento oficial ou cidadania, pode ser complicado procurar emprego ou abrir um determinado negócio, então na minha opinião você deve ter um projeto.

Estou falando de um projeto de vida em geral. Porque com base no tipo de emprego que se pretende encontrar, facilita também a identificação do local aonde ir.

Então, ter um projeto de vida, pelo menos no início, como ponto de partida, permitiria que as pessoas estivessem mais focadas e dissessem, por exemplo, “se quero viver do turismo ou se sou artesão ou pinto, preciso de locais onde a natureza é mais inspiradora ou onde existe mais turismo”.

O outro conselho, em geral, é ir para lugares um pouco mais prósperos, principalmente se você não tem grandes recursos financeiros no início, ir para o norte da Itália certamente facilita; se o projeto inicial não puder ser concluído, você pode ter um plano B.

No entanto, não chegue de surpresa, especialmente se você não tiver contatos. Você pode ter sorte e encontrar um emprego, mas se você tiver uma ideia inicial, na minha opinião, é muito mais fácil.

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