Só espero que, quando reler isso, o dia-a-dia em quarentena já tenha passado, que todos possamos aprender e tirar algo de positivo dessa experiência, como os avós quando se lembram da guerra, ao contrário do que nos lembraremos no sofá. Só espero que daqui alguns meses este texto seja algo do passado.

A ITÁLIA QUE APAGOU AS LUZES 

Tradução de Ivair Carlos Castelan

As luzes da Lombardia começaram a se apagar primeiro, depois as do Veneto e, algumas semanas depois, também as do resto da Itália. A causa não foi um grande “curto-circuito”, ou melhor, sim, um “curto-circuito” chamado Coronavírus, ou cientificamente conhecido como COVID-19. Uma “gripe simples”, dizíamos no início, enquanto se observava de longe as consequências desse agente microscópico na China. “Isso afeta principalmente os idosos”, dizíamos quase com um certo e apático alívio.

A verdade é que hoje, um mês após o surto deste vírus na Itália e, na terceira semana de quarentena, percebemos que somos todos vulneráveis, que não podemos olhar nada de longe neste mundo extremamente globalizado e que uma gripe pode não ser tão “simples” quando um sistema de saúde, que era um exemplo até alguns meses atrás, está à beira do colapso.

Os fatos do coronavirus na Itália

O fato é que, até hoje, 23 de março de 2020, existem 5.476 mortes, superando a China “em grande escala”, 59.138 infecções, das quais 7.024, felizmente, já estão curadas.

O fato é que um dos maiores problemas da Itália, sua demografia composta principalmente por idosos, encontra-se ainda mais enfraquecida, mais vulnerável, mais presente.

O fato é que disseram a todos nós para ficar em casa, mas, infelizmente, alguns continuaram assistindo tudo de longe, enquanto outros decidiram voltar para seus parentes “lá embaixo”, sem saber que estavam carregando “o coroninha”. E assim, de um dia para o outro, a bandeira italiana vestia-se toda de uma única cor: vermelha.

O fato é que um dos sistemas de saúde mais eficientes da Europa está agora exaurido e pede ajuda.

Pede ajuda para encontrar outras mãos que levantem a carga, que acompanhem os pacientes, que criem mais leitos nos hospitais; mas, acima de tudo, pedem uma ajuda muito simples a todos os cidadãos que têm a sorte de viver nesta terra maravilhosa: estar no sofá esperando que tudo passe. Mas isso se mostrou muito difícil nesses tempos de “hiperatividade”, onde “quanto mais você faz, mais se move, mais legal você é”.

As consequências que teremos que enfrentar após o dia-a-dia em quarentena

As consequências? Já as lemos antes nos números, que não são apenas números, mas histórias de vida de pessoas com uma família que chora por eles, pessoas que partiram deste mundo sozinhas. Idosos, mas também jovens.

Assim, as luzes da Itália foram substituídas pelos sons das ambulâncias que interrompem o silêncio e a serenidade das ruas vazias. Na verdade, são ambulâncias e cães – porque agora são os cães que levam seus donos para passear – são quase a única coisa que se ouve por aí.

Ah! Você também pode ouvir os flashmobs dos vizinhos que, às 18:00, começam a cantar músicas de autores que vão desde L’Italiano, Bella Ciao, Cara Italia e o hino nacional.

O fato é que devemos respeitar uma regra simples: continuar o nosso dia-a-dia em quarentena, ficar em casa enquanto desfrutamos no sofá as imagens do regresso dos golfinhos ao sul, os peixes a Veneza e os cisnes a Milão.

Leia o artigo em italiano: La quotidianità in quarantena

Faça o exercício deste artigo: Esercizi

Obs 1:  Laggiù usado no texto em italiano refere-se ao Sul da Itália.

Obs 2: Flasmobh é um grupo de no mínimo 10 pessoas que se reúnem repentina e instantaneamente em ambiente público, realizam uma apresentação atípica por um curto período de tempo e rapidamente se dispersam do ambiente como se nada tivesse acontecido.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *